Orientanda: Maria Luiza Rangel
Orientadora: Claudia D. Vargas e Erika C. Rodrigues.
Ano: 2015.
Resumo:
Rangel, Maria Luíza Sales. Predição de eventos ocorrendo no espaço ao redor da mão. Rio de Janeiro, 2015. Tese de Doutorado apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas (Fisiologia), do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, Universidade Federal do Rio de Janeiro.
A capacidade de prever uma ação iminente é intrínseca ao sistema motor. Predizer significa criar estimativas do estado futuro do corpo e do mundo ao redor. A ocorrência de uma negatividade no sinal eletroencefalográfico (EEG) antes da observação de ações de outrem, o potencial de prontidão (PP), foi proposta como um marcador da predição (KILNER et al, 2004). Neste trabalho investigamos se este marcador também ocorreria em antecipação a eventos ocorrendo no espaço ao redor da mão de outrem. Desenvolvemos um paradigma de observação da ação e registro do potencial de prontidão em indivíduos saudáveis (n=18) e em participantes com lesão do plexo braquial (LPB; n=5). Os participantes assistiam a uma série de vídeos com a mão de um ator e uma bola colorida em perspectiva egocêntrica. A cor da bola indicava se a mão iria pegá-la (Mov. Mão), se a bola rolaria em direção à mão (Mov. Bola) ou que permaneceriam paradas (Não Mov.). Cada vídeo foi apresentado 20 vezes, em 3 blocos, totalizando 60 apresentações de cada. Os participantes com LPB foram avaliados quanto à funcionalidade e à sensibilidade do membro afetado. Para análise, uma janela de interesse foi definida em 500 ms antes do início do movimento da mão/bola, ou tempo equivalente na condição Não Mov. O sinal dos eletrodos Fc5, C3, Cp3, C5 e Cp5 sobre o córtex sensório-motor esquerdo e Fc6, C4, Cp4, C6 e Cp6 sobre o direito foi processado e promediado separadamente. Para cada voluntário e condição uma reta ajustada à inclinação do sinal EEG foi calculada dentro desta janela. O gradiente de inclinação foi analisado através de Análise de Variância para Medidas repetidas (ANOVA), considerando os valores obtidos no hemisfério contralateral à mão observada e o fator intrassujeito Condição, com três níveis (Mov. Mão, Mov. Bola e Não Mov.). O pós-teste de Newman–Keuls foi aplicado. No grupo saudável o fator Condição alcançou significância para a observação da mão direita (F(2,16) = 4,78616 p<0,05). As condições Mov. Mão (-2,093 uV/s) e Mov. Bola (-1,788 uV/s) apresentaram maior inclinação negativa que a Não Mov. (0,735 uV/s, p= 0,03 e p=0,02, respectivamente). As condições Mov. Mão e Mov. Bola não diferiram entre si (p=0,765). Assim, em participantes saudáveis o PP precede tanto a observação de um movimento iminente quanto o toque de um objeto que se move em direção à mão de outrem. De três participantes com LPB, dois apresentaram PP na condição Mov. Mão, mas não na Mov. Bola. Um participante apresentou o padrão inverso. Estes participantes apresentavam diferentes níveis de disfunção sensório-motora, e não apresentavam dor. Os resultados encontrados permitem avançar sobre o conceito de predição, sugerindo que o PP antecede a ocorrência de eventos no espaço ao redor da mão, seja este evento um toque ou um movimento. A alteração da função sensório-motora dos indivíduos com LPB pareceu interferir com a capacidade de predição. Esta possibilidade deve ser investigada em um maior número de pacientes para inferirmos sobre a influência das informações aferentes e da plasticidade após lesão periférica sobre a predição.
Palavras chaves: Predição, potencial de prontidão, observação da ação, lesão do plexo braquial.
Link para o trabalho: http://objdig.ufrj.br/50/teses/d/CCS_D_847637.pdf